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os 10 posts mais lidos (esta semana) seguidos dos posts mais recentes (26 Outubro 2016):

Oct 24, 2010

... " Não basta abrir a janela " [ Fernando Pessoa ]


Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

In Poemas Inconjuntos,In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Fernando Cabral Martins, Richard Zenith, 2001.
A partir de agora na página da Casa Fernando Pessoa podem ser consultadas também as obras da Biblioteca Pessoal de Fernando Pessoa (digitalizada, obras em formato .pdf, algumas com anotações à margem do próprio Pessoa, inclui obras inéditas do próprio) (aqui)

Oct 17, 2010

...Médicos, ignorância e doenças do comportamento alimentar

 Abaixo transcrevo com autorização da autora (Carrie  Arnold do Blogue  EDbites dos US ) um texto sobre os médicos. Há mais de um mês tenho este texto que está muito bem escrito no original inglês (espero que a minha tradução livre não o estrague) para colocar no blogue e tenho hesitado em fazê-lo. Porquê?


Porque, apesar de saber que a alguns médicos assentam que nem uma luva as ignorâncias abaixo enumeradas, existem médicos excelentes em Portugal. Muitos médicos portugueses têm apoiado a recuperação de muitos doentes com anorexia e bulimia. Muitos doentes foram "salvos" por médicos maravilhosos, tecnica e humanamente maravilhosos. Os ex-doentes estão aí para testemunhá-lo. Mas principalmente porque os doentes devem procurar apoio dos especialistas, sempre!
Concluído o preâmbulo-aviso, segue a transcrição
...Médicos, ignorância e doenças do comportamento alimentar (dca)
 [no original: Doctors, ignorance, and eating disorders]
03/09/2010

" Há um aspecto interessante que encontrei numa dicussão sobre porque é que os médicos estão tão alheados das doenças do comportamento alimentar (Anorexia, Bulimia). Há aspectos relativos às empresas de seguros (nos Estados Unidos) e às regras dos serviços nacionais de saúde (no Canadá, no Reino Unido, etc.). Mas não estou a referir-me a isso.  É que a maioria dos clínicos não entende a doença, mesmo quando, eventualmente se intitulam de "especialistas" em doenças do comportamento alimentar (dca).

Penso que as possíveis razões para esse facto são:

1. Desconhecimento. Alguns médicos de facto, no fundo, não possuem a chave para o problema.  A situação mais perigosa (e frequente) é quando os médicos pensam que possuem a chave, mas de facto não a têm. Posso ser ainda mais específica: há aqueles que não têm idéia de que eles não percebem do assunto e há aqueles que não querem admitir que não percebem do assunto.

É curioso, porque eu respeito a sério um médico que me diz: "Sabe, isso realmente não é minha área de especialização, mas deixe-me procurar alguém que possa ajudá-la melhor." Admito que é difícil para alguém (um médico em particular) admitir que não sabe tudo, mas posso garantir-vos que passarei a respeitá-lo mais se assumir essa ignorância.

2. Impotência. Muitas das coisas para que os clínicos são formados e treinados para tratar envolvem, basicamente, dizer a um paciente o que fazer ou receitar-lhe um remédio, e o problema ficará resolvido. Mesmo noutras doenças que podem ser crónicas, complexas, há um caminho óbvio a seguir. Primeiro tenta-se um tratamento A, depois o B, depois o C. Assim, alguns médicos vão aconselhar a velha rotina "have a sandwich"  porque é o tipo de coisa que funciona com outras doenças.

Mas o problema com um transtorno alimentar não é realmente comer a sandocha. É convencer-te a comer (e digerir) a sandocha. Nem todos os doentes com dca padecem de problemas gastrointestinais mas posso garantir-vos que a maioria dos doentes pensa em comer a sandocha.   É o medo do que poderá acontecer se comer uma sanduiche que ataca a maioria dos pacientes. Penso que isso não é de facto compreendido. 

Outra coisa que acho que muitos médicos não percebem é que anorexia e a bulimia não são como as outras doenças. Porquê?

3. Pressupostos  errados. Quando alguém fica doente, geralmente quer melhorar. O problema com as doenças do comportamento alimenta é que muitos doentes  não reconhecem que têm um problema. E mesmo quando reconhecem, muitas vezes há problemas sérios com o acompanhamento clínico. Às vezes a motivação desaparece. Às vezes o doente mente para sair do consultório.  Às vezes o paciente sub valoriza a dificuldade do tratamento. Ou então o doente não compreendem a gravidade do problema ("o meu transtorno alimentar não é problemático"). A maioria dos médicos não percebem este comportamento. Não percebem porque alguém fica com estes  sintomas. Por isso, assumem que o doente está pronto e disposto a parar o comportamento doentio- o que nem sempre é verdade.

4. Regulam-se pelo doente. Nem sempre isso é mau. Acho que é bom que os médicos deixem 'assumir a liderança' aos doentes num estilo interactivo, em relação aos tipos de tratamentos que funcionam melhor, esse tipo de coisas. Mas quando um paciente não se rala verdadeiramente com uma coisa que o está a matar, os médicos muitas vezes pensam que afinal não deve ser assim tão grave.
(Eu tive este problema com a depressão simplesmente porque não demonstro plenamente as minhas emoções e tenho ao mesmo tempo um forte sentido de humor negro. Por isso, posso estar com uma depressão grave e ao mesmo tempo dizer graçolas ... de que só eu sei o verdadeiro significado).

5. A comunicação social, os mídia . Na comunicação social, quando se veêm os casos de doenças do comportamento alimentar, são apresentadas as situações mais extremas.    Por isso quando alguém entra no consultório com um peso que não é tão baixo como daquela magrizela que viu na TV na noite passada, ou que não vomita ou usa laxantes com a mesma frequência, é muito mais fácil (mas apesar disso irresponsável e estúpido) mandar o doente embora.

6. Sobre-valorização ou desvalorização das análises laboratoriais. Muitas pessoas podem estar com graves distúrbios do comportamento alimentar e mesmo assim terem o resultado das análises laboratoriais nos parâmetros normais. Por outro lado, as pessoas podem parecer mais ou menos saudáveis e terem resultados laboratoriais malucos. Mas como que peso não é realmente baixo, possivelmente não estão muito doentes. Ou se o peso é muito baixo, mas os resultados das análises laboratoriais estão normais, então não é provável que esteja muito doente.  

7. A sobrevalorização do peso. Esta explica-se por si só.

 

8. A histeria anti-obsesidade. Quando todas as mensagens que se ouvem são para se certificar de que as pessoas não estão demasiado gordas, provavelmente os médicos não reparam se elas estão demasiado magras.  Frequentemente os médicos encorajam os esforços para os doentes perderem peso porque pensam "Finalmente! Alguém a quem não tenho de debitar a lenga-lenga dos perigos dos fritos!" . Ou então os médicos ignoram a perda de peso de uma criança em crescimento porque ainda não está com "subpeso", embora a perda de peso seja rápida, acentuada, e coloca essa criança fora da curva de crescimento normal.  

9. Simplesmente não sabem lidar com as doenças do comportamento alimentar.  Sou a primeira a reconhecer que não sou uma pessoa fácil de tratar, especialmente quando estava doente. Faltava às consultas ou desaparecia e ignorava as recomendações dos médicos.  Eu não sabia que  tinha um problema, e que uma crise iria aparecer e que o inferno iria desabar sobre mim. Não invejo a sorte dos meus  médicos e terapeutas, e esse é um dos motivos mais óbvios porque não quero ser médica / terapeuta. Mas os pacientes resistentes carregam muita coisa com eles. Faz parte do jogo, e é a vida de alguém que está em jogo nas mãos dos médicos.

Porque acha que tantos médicos não conseguem entender as doenças do comportamento alimentar? Partilhe connosco os seus comentários, mas peço que isso não se transforme numa comparação para saber quem está mais doente. Não precisa dizer quantas vezes por dia ..., ou o seu peso / IMC. Não é essa a questão. O que eu estou curiosa por saber é o que a sua experiência lhe ensinou sobre porque tantos médicos estão alheados do que são as doenças do comportamento alimentar. "

Oct 7, 2010

...vamos fazer o que ainda não foi feito!


Fazer o que ainda não foi feito não será um bom lema de vida? ou dito de outra forma:
"CRIAR não é SONHAR, mas ao invés atento CONSTRUIR O QUE SE SONHA" [Manuel Mendes]
Não há como o olhar das crianças para expressar esse gosto pelo ignorado
Gosto da frase "vamos fazer o que ainda não foi feito"  num sentido mais geral do que a letra do Abrunhosa.

Sobre este post recebemos um comentário que transcrevemos parcialmente:
<< "fazer diferente" foi o lema que me trouxe até ao dia de hoje, cheio de cheiro de mudança. "fazer diferente" foi o único argumento para mudar d psiquiatra quando em 6 anos não encontrava as mudanças que queria na minha vida (de doente), "fazer diferente foi o que me levou ao internamento.... Ninguém que sofra destas (ou de outras) doenças pode desistir sem tentar "fazer diferente... sem fazer o que ainda não foi feito! >>

Oct 5, 2010

...depressão, sofrimento e tristeza

"Um em cada cinco portugueses sofre de depressão"
"A depressão mata 1200 pessoas por ano em Portugal"
[notícias recentes]
no esqueci a ana notas sobre o relatório da saúde mental dos portugueses
Miguel Chalub - [...]. Não se pode mais ficar entediado, aborrecido, chateado, porque isso é imediatamente transformado em depressão. É a medicalização de uma condição humana, a tristeza. É transformar um sentimento normal, que todos nós devemos ter, dependendo das situações, numa entidade patológica.
[ a entrevista pode ser lida na integra no blogue Psiquiatruras]
E também no blogue de Vanessa Marsden:
[...]
"Vivemos em uma sociedade na qual a frustração não é reconhecida. A frustração, não a felicidade, é o estado natural do ser humano. Somos frustrados ao nascer, retirados do calor e conforto maternos, jogados em um ambiente frio, em contato com luvas estéreis, em um mundo de fome e dor. A frustração por não alcançar o objeto colorido do outro lado do quarto nos faz engatinhar e andar. A frustração pode ser entendida como força motriz dos avanços da humanidade: sem ela, estaríamos num estado de apatia. Devido a ela, construímos casas confortáveis, buscamos ter o melhor para tapar aquele buraco sem fundo que se instalou ao nascimento.

Entretanto, a frustração hoje é completamente negada na sociedade de consumo. Desde pequenos somos bombardeados com a noção de que a felicidade é o estado natural do ser humano e se não somos felizes é porque não temos o sufiente. Quer ser feliz? Use colgate e sorria como as moças da propaganda. Quer ser feliz? Compre o último lançamento em carros e não somente serás feliz ao dirigí-lo, como parece que a moça semi-nua sobre o capô pode ser incluída na transação. Nesta sociedade de respostas "rápidas e fáceis" a mensagem é "sua frustração é somente culpa sua e ninguém mais a sente". Essa necessidade rápida de resolver um mal-estar, sem espaço para lidar com os sentimentos ou demonstrar a fraqueza de se pedir ajuda também tem sido apontada como uma das raízes do problema das drogas, mas isso é assunto para outro post."
[continuar a ler no Blogue da V. Marsden]

Também sobre a Depressão um texto no blogue que acompanho "Outros Olhares" (aqui).

fotografia flickr cc (aqui)

Oct 4, 2010